Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Escola Superior de Desenho Industrial
Programa de Pós-graduação em Design

Arquivos para Reencantar o Mundo:

a produção de memória em territórios periféricos a partir de acervos imateriais

Jonathan Nunes de Souza
orientação de Zoy Anastassakis
coorientação de Guilherme Marcondes 

No meu projeto de doutorado em Design, investigo as formas como acervos comunitários, localizados em territórios periféricos do Brasil, têm produzido novas narrativas sobre memória, pertencimento e futuro. Interesso-me especialmente por iniciativas como o Museu dos Meninos, no Complexo do Alemão, e o Acervo da Laje, em Salvador, que têm tensionado os modos tradicionais de arquivamento e preservação, ao propor metodologias afetivas, colaborativas e anticoloniais de produção e circulação de memória. Minha hipótese central é que esses acervos, ao invés de se limitarem a uma função documental ou histórica no sentido tradicional, operam como dispositivos de fabulação: eles convocam o passado e o presente como matéria viva para a invenção de futuros outros, abrindo espaço para que as comunidades envolvidas imaginem e projetem realidades que escapam das narrativas hegemônicas de esquecimento, violência ou subalternização.

A partir de uma abordagem situada e inspirada por perspectivas decoloniais, minha pesquisa busca compreender como essas iniciativas mobilizam não apenas objetos, imagens e documentos, mas também afetos, sonhos e reivindicações políticas. Proponho olhar para esses acervos como territórios de fabulação, nos quais a memória não é apenas um testemunho do que aconteceu, mas uma plataforma de imaginação coletiva, capaz de reencantar os modos de narrar, existir e reivindicar direito ao futuro. Ao observar como essas comunidades performam sua memória através de exposições, vídeos, publicações, festivais e rituais, quero refletir sobre como o design pode aprender com essas práticas, e como podemos, a partir delas, criar novas possibilidades de integração. Minha intenção é colaborar com a construção de metodologias que não tratem os acervos apenas como espaços de preservação, mas como máquinas narrativas de criação de mundos possíveis, onde passado e futuro se entrelaçam num exercício político de imaginação radical.